Quando falamos em lixo, a gente, automaticamente, pensa em algo que não se usa mais e que, portanto, deve ser descartado. Um conceito totalmente ligado ao consumo e que, combinado com a ausência da cultura do reaproveitamento, nos transformou em um dos países que mais produzem resíduos sólidos no mundo: quase 80 milhões de toneladas por ano, quantidade suficiente para lotar uma área correspondente a mais de 200 estádios de futebol!
Desse total, apenas 3% é reciclado ou reaproveitado, o que faz com que percamos R$ 8 bilhões por ano no país, de acordo com dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, do Ministério do Meio Ambiente. O grande problema deste complexo cenário está no nosso olhar para o consumo (muitas vezes, compulsivo) e na forma como lidamos com o nosso lixo. Analisar o que e como consumimos e a maneira como descartamos o que utilizamos é uma maneira de avaliar como nos relacionamos e nos posicionamos com o mundo em que habitamos.
Um exercício bacana para reverter este quadro é tentar, ao máximo, fazer circular o que ainda pode ser utilizado, ao invés de simplesmente descartar, um pensamento muito ligado à economia circular e ao consumo consciente. Podemos fazer isso não apenas com papel, plástico e papelão, mas também com uma série de objetos, como aparelhos eletrônicos e até roupas.
Como exemplos em atuação no mercado temos o Banco de Tecido, uma iniciativa interessante que dá vida nova a tecidos que estavam sem uso em prateleiras ou estoques ou esquecidos no fundo das gavetas. Por meio do projeto, as pessoas liberam espaços nos armários, descartam corretamente os produtos e reduzem o consumo dos recursos naturais do planeta.
Outro projeto bacana nesse sentido é o Movimento ReCiclo, criado pela C&A, que coleta roupas usadas e oferece alternativa de descarte, seja por meio da reutilização ou da reciclagem. Podem ser doadas peças de roupa (ou até retalhos) que não te interessam mais (elas podem ser da C&A ou de outras marcas, a única exigência é que elas estejam higienizadas). O programa está disponível em 40 lojas pelo país.
Os brechós são outras alternativas focadas com este objetivo e estão totalmente ligados a uma tendência mundial. De acordo com dados da consultoria de tendências WGSM, nos EUA e no Reino Unido, mais da metade das pessoas entre 25 e 34 anos tem interesse em alugar peças de roupa e acessórios, ao invés de comprar. A estratégia é aplicada tanto para ocasiões pontuais, como festas e reuniões de trabalho, quanto para períodos sazonais, e tem por trás um ideal bastante claro: nós não precisamos ter as coisas, mas sim fazer (bom) uso delas. Com isso, a gente economiza e o planeta agradece.
A Roupateca é um exemplo disso. Localizada em São Paulo, a loja oferece serviço de aluguel de roupas por assinatura, um guarda-roupa compartilhado com um acervo composto por doações e garimpagem das criadoras da iniciativa. Segundo elas, o mundo está mudando e, cada vez mais, percebemos que podemos viver com menos e compartilhar mais. Afinal, o que é velho ou usado pra você pode ser novo para outra pessoa. Vamos consumir menos e compartilhar mais?
Aqui na Estilo, por exemplo, os familiares doam lençóis e roupas velhas (que, por conta do seu estado de conservação, não poderiam ser doadas para outras pessoas) para serem transformadas em capas de almofadas, tecidos para exposições, tapetes e até cabanas! O que poderia ser lixo se transforma em uma série de outras coisas lindas e criativas.